Só os fracos se abalam.

Era mais ou menos uma hora da tarde, quando ia para a escola. Estava a pensar numa prova que iria fazer. Havia estudado a noite passada e a manhã deste dia, estava preparada, mas a dúvida sempre pairava sobre essa “cabecinha”... Estava andando, um sol de lascar... Mas, como sempre, tinha que ir a escola.
Parecia um dia normal como todos os outros, como aqueles em que ia me refugiando sob as sombras. Porém um acontecimento fez com que este dia fosse diferente, especial... Inesquecível.
Avistei em minha frente, longe ainda, um senhor numa cadeira de rodas, em que ele mesmo a fazia movimentar, empurrando as rodas. Um senhor já idoso, com um semblante daqueles que só quem sofreu muito na vida tem.
Percebi que aquele senhor cumprimentava todas as pessoas que por ele passava, sempre a sorrir.
Como fazia muito esforço para movimentar a cadeira, parava sob a sombra de cada árvore e descansava por alguns segundos... Logo voltava, e continuava a cumprimentar.
Aos poucos aquele senhor aproximava-se de mim, e eu a observar aquele gesto singelo o admirava.
Ao passar por ele, me surpreendi... Fixou os olhos em mim, e muito educado perguntou-me as horas, e com a mesma educação o respondi. Aquele senhor chateou-se e disse:
_ Nossa! Não devo mais desejar bom dia as pessoas, agora devo dizer boa tarde.
Agradecendo-me ele continuou a movimentar-se, agora a dizer boa tarde.
Fiquei cativada ao ver um senhor com tantos problemas, aparentemente, e com prazer em viver, não estava triste, apesar de tamanha dificuldade em locomover-se... Ali, sozinho e ao mesmo tempo acompanhado por aquelas pessoas que ele cumprimentava.
Continuei a andar, agora não mais pensava naquela prova... Fiquei a refletir sobre o que presenciara naquele momento... Apenas aquele senhor vinha a minha mente.
Impressionante como o ser humano se deixa abalar por qualquer coisa... O ato deste senhor ainda vivo em minha memória, leva-me a crer que só se abalam os fracos, os que não acreditam que um dia tudo passa...